O papel das Ciências da Terra na Educação Básica
Maria Cristina Motta de Toledo
A inserção de conteúdos de ciências da Terra na Educação Básica pode trazer uma série de benefícios, alem da formação de cidadãos com maior compreensão do meio que ocupam e dos recursos naturais que utilizam, podendo, assim, tomar decisões responsáveis sobre o futuro próprio e o da humanidade. O estudo da história e da dinâmica do planeta representa um contexto que permite integrar disciplinas normalmente dissociadas como física, química, biologia, matemática e mesmo história e geografia (já que muitas das condicionantes históricas de evolução da humanidade, da sociedade – e da própria vida – estão intrinsicamente relacionadas aos ambientes geológicos, suas condições e sua evolução), sem contar Geografia, cujo ramo geografia física está estreitamente relacionado as Geociências, entre elas Geologia, Paleontologia, Arqueologia, oceanografia e meteorologia.
O estabelecimento de relações entre conceitos de diferentes disciplinas não é um processo espontâneo, e os conteúdos geocientíficos podem justamente representar o estímulo para que os alunos façam estas conexões.
Além disso, o conceito de tempo geológico é talvez uma das mais importantes contribuições da geologia para o pensamento humano, pois é reveladora da enorme dimensão temporal e complexidade dos processos que construíram nosso planeta, criando e modificando ambientes com base na tectônica global e que vieram condicionar o aparecimento da vida e a evolução das espécies na litosfera-hidrosfera-atmosfera. Nesse sentido, incluir este(s) tema(s) na semana do meio ambiente de Ourolândia e na educação básica é uma iniciativa riquíssima para o desenvolvimento intelectual dos alunos.
Monteiro Lobato, em O poço do Visconde, escreveu - ... o sorriso que tenho nos lábios é um sorriso geológico – o sorriso de quem sabe, olha, vê e compreende – sugerindo, provavelmente, que o raciocínio geológico (aquele que leva em conta múltiplas facetas de um fenômeno, integrando muitos tipos de informações) é rico do ponto de vista do exercício intectual e, portanto, muito útil na educação para o alcance de seus objetivos.
Conteúdos básicos sobre a história e a dinâmica do planeta já fazem parte de várias disciplinas do ensino fundamental e médio no Brasil, nas quais, no entanto, são ministrados de forma geralmente fragmentada, sem constituir um todo ordenado e integrado de estudo do sistema terra, desde sua constituição, origem e evolução, fenômenos interiores e superficiais, as interações das diferentes esferas (oceanos, atmosfera, litosfera, biosfera), e as profundas e diversificadas relações entre meio físico e seres vivos, o que não contribui para a assimilação consistente de uma cultura geológica sólida. Em outros países, como França, Alemanha, Espanha, Portugal e também em países de outros continentes, são reconhecidas a importância do entendimento da história e a dinâmica terrestre para a formação do cidadão, para o alcance do desenvolvimento sustentado e para o entendimento de muitos dos grandes temas científicos em cuja pesquisa são investidos recursos financeiros e que merecem a dedicação de cientistas de todo o Mundo. No Brasil, a cultura geológica praticamente inexiste nos alunos que completam a Educação básica e ingressam na educação superior.
No nosso país, desde que os cursos de História Natural foram extintos, os conteúdos de ciências da terra foram para os cursos superiores de Geologia, Geofísica, Meteorologia, Oceanografia e outros, que, por outro lado, não formam professores. Nesse contexto, os meios não-formais de ensino (Museus, Parques Naturais, Imprensa, eventos como esse e a Industria Cultural em Geral) passaram a exercer um papel importante na difusão de conteúdos de geociências, mas ainda são insuficientes e muitas vezes carecem de precisão e atualização, pois a adaptação dos materiais é feita geralmente por pessoas sem conhecimento específico, e não contribui como poderiam para que alguém de escolaridade mediana possa se considerar bem informada e capaz de tomar decisões suportadas na ciência de boa qualidade existente no mundo hoje.
Particularmente na educação ambiental, as ciências da terra têm enorme contribuição a dar, já que a compreensão da dinâmica e história da terra e seus ambientes pode ser uma das formas de conscientização da responsabilidade da humanidade na manutenção de um ambiente saudável e favorável para a vida.
A própria decisão da UNESCO em proclamar o ano internacional do planeta terra no triênio 2007-2009, com os objetivos de demonstrar o grande potencial das ciências da terra na construção de uma sociedade mais segura, sadia e sustentada, e encorajar essa mesma sociedade a aplicar esse potencial mais eficientemente em seu próprio benefício, mostra o reconhecimento internacional da importância das ciências da terra na educação.
Em consonância com essas idéias, já se nota um aumento expressivo de iniciativas para maior inserção das ciências da terra na educação em geral e particularmente na educação ambiental, com a criação de cursos de licenciatura nos quais as ciências da terra tem papel central ou, pelo menos, equilibrado em relação as outras ciências da natureza, com a criação de materiais didáticos e paradidáticos correspondentes, com significativo aumento nos últimos tempos. Esses esforços, além de consolidar a importância da área, também contribuem para maior compreensão do papel das ciências da terra na ciência, na tecnologia e na vida.
Obrigado.
Não poderíamos deixar de agradecer a comunidade de Ourolândia em geral, muitas delas não mediram esforços para que o evento pudesse ser realizado.
O nosso agradecimento especial é dedicado a Semec de Ourolândia, na pessoa de sua secretária Keila (e equipe)que num momento especial para o município, ainda disponibilizou tempo para atender-nos.
Admir Brunelli
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